Hoje fui ao meu bau de memorias, e eis o que encontrei... Um texto que escrevi há já algum tempo, enquanto tinha tempo para escrever. Saltando do bau o projecto de história nº 23. Este remonta a setembro de 1999.
Por vezes gosto de escrever, e ao reler penso em como me sentia para escrever isto assim...
"A rua estava escura, o chão molhado. Tinha acabado de chover, e as pedras da calçada reluziam como se fossem diamantes, reflectidas pela lua cheia que insistia em aparecer,timida por entre as nuvens.
Mais uma noite pensou ela, mais uma noite... Como iria sobreviver, como iria arranjar forças, ou alguém que a fizesse viver mais um dia, só mais um dia.
Andou quase desnuda e descalça, cheirando a vida de outros, sentindo o calor de outros, mas o seu próprio calor ja não o sentia há muito tempo. Deixou de viver, deixou de ser humana.
Viu o seu reflexo na montra de uma loja, o que existia de mulher, o que existia de beleza, tornou-se uma sombra. Já não revia nenhuma beleza, a beleza que tanto lhe falavam. Viu-se sozinha, e com ânsia de sobreviver.
Resolveu caçar, mas o corpo não obedeceu... Deixou-se ficar a sugar tudo o que a pudesse tornar novamente humana, e não o espectro que vivia naquele corpo. Sentiu o frio da calçada, sugou a luz que vinha da lua cheia, e fechou os olhos, e ao fecha-los tornou-se novamente mulher, e voou livremente na sua escuridão".
Beijocas
Cebolinha
Verduras, alhos e Cia lda.
As cusquices da horta
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